Automação transforma o trabalho e exige nova postura de empresas e gestores

A automação vem mudando completamente o modo como empresas operam, redefinindo tarefas e exigindo novos perfis profissionais. Embora o debate sobre suas consequências costume girar em torno do risco de desemprego, uma nova pesquisa mostra que a percepção é, em grande parte, positiva: 84% dos profissionais empregados acreditam que a automação pode melhorar a qualidade do trabalho. Essa visão, no entanto, não elimina o desafio de adaptação — tanto para trabalhadores quanto para empresas.

O dado faz parte da 31ª edição do Índice de Confiança Robert Half, que revela um movimento crescente de interesse por qualificação. Cerca de 59% dos profissionais dizem querer desenvolver novas competências para se manterem produtivos e competitivos. O avanço da automação, portanto, exige planejamento estratégico por parte dos empregadores, especialmente em setores onde os impactos já são visíveis — algo que o Radar Sindical vem acompanhando de perto, com foco nos efeitos sobre as relações de trabalho.

Mudança exige estratégia

As áreas mais suscetíveis à automação, segundo o estudo, incluem TI, segurança da informação, manufatura, atendimento ao cliente, logística e finanças. São setores em que o uso de sistemas automatizados já vem substituindo funções repetitivas e operacionais. Ainda assim, a tendência não é apenas de extinção de cargos, mas também de criação de novas funções mais complexas e analíticas.

Para as empresas, o momento é de reestruturação de processos internos. Segundo a Robert Half, os gestores devem criar um ecossistema onde a tecnologia complemente o trabalho humano. Isso envolve investir em programas de capacitação (upskilling) e requalificação (reskilling), estimulando o aprendizado contínuo e preparando os times para lidar com ferramentas digitais e desafios mais estratégicos. 

Essa também é uma agenda cada vez mais presente nos acordos coletivos registrados no Radar Sindical, que mostram iniciativas de qualificação surgindo como cláusula em diversos setores.

O papel do RH e das lideranças

Uma das principais conclusões do relatório é que a responsabilidade pelo preparo não recai apenas sobre o trabalhador. Embora a postura proativa do profissional seja essencial, cabe às lideranças fomentar um ambiente de desenvolvimento. O desafio está em identificar as funções que tendem a desaparecer e planejar a transição com apoio em treinamentos internos, mapeamento de competências e reestruturação organizacional.

Além disso, a área de Recursos Humanos deve atuar de forma mais próxima na definição de perfis profissionais alinhados às novas demandas. Entre as habilidades mais valorizadas estão análise de dados, programação, pensamento crítico e capacidade de adaptação. 

Criatividade e resolução de problemas complexos também ganham destaque, pois são atributos que não podem ser replicados por sistemas automatizados. O Radar Sindical identificou, por exemplo, que cláusulas sobre “formação tecnológica” já aparecem em convenções de categorias como metalúrgicos, gráficos e transportes.

O que o mundo sindical pode fazer

setor sindical também tem um papel estratégico diante da crescente automação. Em vez de tratar o avanço tecnológico apenas como ameaça, é possível encarar o tema como uma frente de negociação coletiva e proteção aos trabalhadores em transição. Acordos podem prever programas de capacitação patrocinados pelas empresas, bem como cláusulas que garantam a reinserção dos profissionais deslocados por tecnologias.

Outro caminho é acompanhar de perto os dados sobre mudanças no perfil das funções e pressionar por políticas públicas que incentivem o investimento em qualificação. A automação tende a acelerar desigualdades quando a adaptação não é feita de forma estruturada. 

Plataformas como o Radar Sindical contribuem nesse processo ao reunir indicadores e termos de acordos que ajudam empresas e sindicatos a entenderem como diferentes setores estão lidando com essa transição.

O futuro do trabalho já começou

Embora 12% dos entrevistados ainda não percebam a automação como algo que impactará suas rotinas, especialistas alertam que essa visão pode atrasar reações necessárias. A transformação digital já acontece em ritmo acelerado, e a capacidade de antecipar mudanças é o que determinará a vantagem competitiva no médio prazo.

Empresas e gestores que priorizarem a capacitação e o redesenho de processos estarão melhor posicionados para tirar proveito das oportunidades que surgem. Para o mundo corporativo e sindical, é hora de transformar o debate sobre automação em ações concretas. 

Ferramentas de apoio, como o Radar Sindical, podem ser aliadas importantes para observar tendências e embasar decisões. Afinal, o futuro do trabalho não é um cenário distante — ele já está em curso e exige decisões hoje.

Nathália Pandeló
24999339680
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